O Brasil continua tendo apenas um restaurante excelente, de acordo com a avaliação dos inspetores do Guia Michelin, o guia de restaurantes mais famoso do mundo. O D.O.M, de Alex Atala, foi o único do País classificado com a cotação de duas estrelas na edição 2016 do Guia Michelin Rio de Janeiro & São Paulo, mantendo a classificação do ano passado. As duas cidades têm, juntas, 18 restaurantes avaliados com uma estrela – entre eles o Esquina Mocotó, o Tête-à-Tête e o Kan Suke, em São Paulo, e o Eleven, no Rio, que acabam de receber a primeira estrela.

Mais uma vez, nem uma casa brasileira conquistou a classificação máxima de três estrelas da publicação, que de acordo com o diretor internacional dos guias, Michael Ellis, significa que o restaurante vale a viagem. Apenas duas casas perderam suas estrelas, ambas porque fecharam as portas, o paulistano Epice e o carioca Oro, que ficou cinco meses fechado e acaba de abrir em novo endereço e com nova proposta.

A segunda edição do Guia Michelin Rio de Janeiro & São Paulo, apresentada nesta quinta-feira numa cerimônia no Copacabana Palace, no Rio, não apresenta grandes mudanças, porém traz algumas boas notícias. A primeira é justamente a entrada do Esquina Mocotó na ala dos estrelados. “Essa grata surpresa mostra que a alta cozinha pode ser descentralizada e inclusiva”, disse Rodrigo Oliveira.

O chef ficou sabendo da estrela 15 minutos antes do seu anúncio oficial e por uma “malandragem”: quando foram anunciados os restaurantes que oferecem boa comida e bons preços, os Bib Gourmand, o chefe do salão do Mocotó, Nuno Arez, subiu ao palco e pegou um exemplar do guia. Sem cerimônia, virou as páginas, viu a estrela do Esquina e mostrou para Rodrigo.

“Juro, juro que eu pensei que podia ser engano e disse para ele ficar frio”, conta Rodrigo. Muito feliz com a estrela, o chef que atraiu a atenção do mundo para a Vila Medeiros, na zona norte de São Paulo, diz que não esperava recebê-la: “Foi realmente uma surpresa, não imaginava que um lugar com o nosso modelo de cozinha, que serve o que servimos num ambiente como o nosso e com o nosso tipo de serviço tivesse os requisitos para ganhar a estrela”.

A entrada do paulistano Kan Suke, de Egashira, na lista foi a reparação de uma injustiça. O talentoso sushiman, mestre de sushimen como Edson Yamashita e outros, tinha sido esquecido no ano passado. Outra bem-vinda correção da edição 2016  é a inclusão do Tordesilhas, de Mara Salles, na lista de Bib Gourmand.

Contrariando as apostas, o Attimo manteve sua estrela, mesmo com a troca de chefs, e seu proprietário, Marcelo Fernandes, estava exultante: manteve a do Attimo e a de sua outra casa, o Kinoshita, acabando com o mito de que a estrela é do chef. “Foi uma superação, para mim e para o Francisco”, disse o restaurateur sobre o novo chef do Attimo, Francisco Pinheiro.

A cozinha japonesa no Brasil continua entusiasmando os inspetores do Michelin, a ponto de causar certa polêmica, notadamente no caso do Kosushi e do Huto, que têm cozinhas bem distantes de Jun Sakamoto, Kan Suke e Kinoshita, embora tenham recebido  a mesma cotação. Num total de 19 restaurantes estrelados estão seis japoneses – cinco em São Paulo e um no Rio, o Mee, que além do Japão é dedicado também a outras culinárias asiáticas.

A última boa notícia é o desmentido de um boato, que vinha circulando recentemente entre os chefs, o de que esta seria a última edição do Guia Michelin Rio de Janeiro & São Paulo. Michael Ellis classificou o boato de ridículo e garantiu que o guia segue firme e forte no País. “Vemos a gastronomia brasileira em evolução e isso pode indicar novos restaurantes recebendo estrelas ou mais estrelas nas próximas edições”, disse.

Em entrevista ao Paladar, falou que, apesar de o guia digital ter audiência mais ampla que o papel, as duas publicações são complementares. “Na rua e em viagens, as pessoas consultam o digital, mas em casa, preferem o papel.” Sem querer dar detalhes, o responsável pelo guia centenário afirmou que sua equipe está estudando maneiras de otimizar novos guias na América Latina.

Peru e México? “Pode ser”, desconversou, “estamos estudando, já temos material para fazer novos guias na região o problema é que os recursos são limitados e temos que escolher, otimizar”. Ele disse que há quatro novos Guias Michelin a caminho: Cingapura e Seul, que saem até o fim do ano, e outros dois que deverão ser anunciados nas próximas semanas.

Veja a lista de estrelados e Bib Gourmand (restaurantes que oferecem boa relação de qualidade e preço) deste ano:

DUAS ESTRELAS:

São Paulo

D.O.M. (Alex Atala)

UMA ESTRELA:

 São Paulo

Attimo (Francisco Pinheiro)

Dalva e Dito (Alex Atala, Luiz Gustavo Galvão)

Esquina Mocotó (Rodrigo Oliveira)

Fasano (Luca Gozzani)

Huto (Fábio Honda)

Jun Sakamoto (Jun Sakamoto)

Kan Suke (Egashira Keisuke ) – estreia no guia

Kinoshita (Tsuyoshi Murakami)

Kosushi (George Koshoji)

Maní (Helena Rizzo, Daniel Redondo)

Tête-à-Tête (Gabriel Matteuzzi) – estreia no guia

Tuju (Ivan Ralston)

Rio de Janeiro

Eleven Rio (Joachim Koerper) – estreia no guia

Lasai (Rafael Costa e Silva)

Le Pré Catelan (Roland Villard)

Mee (Kazuo Harada)

Roberta Sudbrack (Roberta Sudbrack)

Olympe (Claude Troisgros, Thomas Troisgros)

BIB GOURMAND

 São Paulo

Antonietta Empório

Arturito

Le Bife – estreia no guia

Bona – estreia no guia

Brasserie Vitória

Casa Santo Antônio

Ecully

Jiquitaia

Manioca – estreia no guia

Marcel

Mimo

Miya

Mocotó

Petí Gastronomia – estreia no guia

Sal Gastronomia

Tartar & Co

Tian

Tordesilhas – estreia no guia

Zena Caffè

Rio de Janeiro

Anna – estreia no guia

Artigiano

Entretapas – estreia no guia

Gurumê – estreia no guia

Lima Restobar

Miam Miam

Oui Oui

Pomodorino

Restô

Riso Bistro – estreia no guia

Fonte: Paladar