É muito difícil não ser feliz em Lisboa. Ao menos quando o que se quer é comer e beber bem. Como em qualquer lugar, aqui a chance de erro cai bastante se você segue conselhos e passos dos locais. Então, a primeira dica é perguntar ao lisboeta mais próximo qual é a tasca do bairro que ele frequenta. As tascas estão pela cidade toda, são quase sempre negócios familiares, simplérrimos e zelam pela dignidade da gastronomia local, são um patrimônio português.

Com uns poucos euros, nunca mais que 10 por pessoa (se passou disso, o alerta pega-turista apita), você vai petiscar bons pães e queijos, tomar uma bela taça de vinho verde, abocanhar um arroz malandrinho – espécie de risoto, mais caldoso – ou um peixe superfresco e ainda provar um doce bem doce.

Grandes cidades, acho, são infinitas e Lisboa ainda por cima é generosa, é fácil andar por ela. Perca-se. Mas, se quiser umas dicas, ache-se nos seguintes lugares.

MERCADO REDIVIDIDO

MERCADO DA RIBEIRA

Comece o dia no Mercado da Ribeira, que, de manhã cedo, ainda é um belo mercado: tem verduras, frutas para se levar. Mas passe também pelo enorme galpão ao lado, reformulado pela revista Time Out, que convidou chefs locais para abrirem lojinhas e pequenos restaurantes ao redor de mesas no vão central. Tem certo ar genérico dos food halls que pipocam pelo mundo – poderia estar em Nova York. Ainda assim, é bonito e tem boas ofertas de comida, uma turistada que vale.

Onde. Mercado da Ribeira. Av. 24 de Julho, 49.

EXCESSO DE BAGAGEM

EL CORTE INGLÈS

O programa pode parecer meio roubada, mas para quem quer encher a mala de comida e bebida (a nossa alfândega brasileira está mais branda com isso, dizem) é boa ideia ir à loja de departamentos El Corte Inglès.

No subsolo, fique pobre na seção de queijos – compre azeitão, serra da estrela e outros que o atendente te sugerir –, escolha uns chouriços (como os lusos chamam os embutidos), enlatados, azeites e ainda faça a festa na parte de vinhos, muito bem fornida, acessível, com vendedores informados.

Levei até arroz (o ótimo arroz carolino). Tudo pode ser embalado a vácuo ou em plástico bolha. Ah, e dê uma passada na peixaria da loja e maravilhe-se com o frescor e a variedade – isso não vai na mala, infelizmente.

Onde. Av. António Augusto de Aguiar, 31.

PÃO, PÃO, CARNE, CARNE

ATALHO REAL

Pregos são sanduíches de carne – o nosso prosaico sanduíche de churrasco. Prego é, portanto, um belo bife metido no meio de um pão. Há muitos por toda Lisboa. Este endereço, dentro de uma espécie de centro cultural no bairro Príncipe Real, dá ares contemporâneos ao sanduíche, sem desfigurá-lo: pelo contrário, usa carne e pão de qualidade, é ótimo. O segredo do bom prego é que a carne molha o pão sem desmilingui-lo. Dá para escolher diferentes cortes (o restaurante é também um açougue); melhor mesmo é o de porco preto com o típico pão bolo de caco (que lembra um english muffin).

Onde. Calçada Patriarcal, 40.

ÁFRICA É AQUI

ASSOCIAÇÃO CABOVERDIANA

Embaixo, na rua, tem a bonita Livraria Buchholz. No vizinho, a entrada do prédio, sem nenhum aviso. Entre, tome o elevador até o último andar e você chegará à Associação Caboverdiana. Com vista para a cidade, num ambiente bem simples – e às vezes com música do Cabo Verde ao vivo –, prove os pratos tradicionais da ex-colônia portuguesa no arquipélago africano em clima caseiro. As opções mudam a cada dia (o restaurante só abre no almoço em dia de semana). Tem muamba – delicioso cozido com porco, repolho, mais gordos e tenros grãos de milho que parecem grão-de-bico – e cachupa, carne na pressão com vegetais e banana.

Onde. R. Duque de Palmela, 2.

LUSOENOFILIA

GARRAFEIRA NACIONAL 

Próxima à parte mais turística da cidade, a Garrafeira Nacional é uma conhecida e tradicional loja de vinhos. Abasteça aqui a adega, é irresistível. Dá para comprar ótimos vinhos por menos de ¤ 10, entre os milhares de rótulos portugueses, que, no Brasil, com o câmbio e os impostos, chegam caríssimos. A loja já embala para a viagem de avião (atenção: você pode trazer até 16 litros na mala). l

Onde. Rua da Santa Justa, 18.

PANELAS QUE SILVAM

CASA DOS PASSARINHOS

Como disse um jornalista do Público, “não há aves nem chilreios, mas não é difícil imaginar alguns clientes a assobiar de satisfação à saída da Casa dos Passarinhos”. Prove as gambas à guilho (camarõezinhos frescos na manteiga; foto abaixo), as tradicionais amêijoas à Bulhão Pato (espécie de vôngole no alho, azeite e vinho branco) ou a galinha de cabidela – entre as dezenas de pratos do longo cardápio desta acolhedora e antiga casa no Campo de Ourique.

Onde. R. Silva Carvalho, 195.

MEIA-NOITE EM LISBOA

PROCÓPIO

Viaje diretamente aos anos 1920: vá ao Procópio para “uns copos”, como dizem os portugueses. O bar fica na entrada de uma vilinha tranquila, próxima à pacata praça das Amoreiras. Procure o Luís, garçom arquetípico: gravata borboleta, colete, calva vencida por cabelos somente na linha das orelhas, amabilidade e distanciamento – ele te escuta, mas não invade. Peça-lhe um porto tônica ou um negroni e recaia nas poltronas de veludo e couro, a mastigar pipocas cortesia da casa.

Onde. Alto de São Francisco, 21.

ENLATADOS E VARIADOS

LOJA DAS CONSERVAS 

Próximo ao Mercado da Ribeira, na Baixa, pare na Loja das Conservas. As melhores marcas do país estão reunidas nesta multicolorida lojinha em que você vai achar sardinhas, cavalinhas, ventrescas de atum, ovas, polvos e outras coisas do mar em belas latas – com ou sem óleo, de variados tipos. As conservas são ótimas para presentear, mas também para levar para o hotel e comer nas horas de fome repentina.

Onde. Rua do Arsenal, 130.

DOCE LUGAR-COMUM

GINJINHA SEM RIVAL

Feche a noite com a clássica ginjinha. O adocicado licor de ginja, fruta que parece uma cereja, é pedido no balcão e vem num copinho – peça com as frutas dentro (“com elas”) e saia tomando a deambular pelas ruas do Rossio. Há algumas e antigas lojinhas de ginjinha. Esta é uma das tradicionais.

Onde. Rua das Portas de Santo Antão, 7.

Fonte: Paladar