Com o objetivo de doar um pouco de tempo a favor de outras pessoas, desde 2006, o projeto Chefs Especiais reúne crianças e jovens com síndrome de Down e lhes fornece, através da gastronomia, a oportunidade de desenvolver a autoestima e autonomia para ingressar na sociedade, valorizando assim, o portador da síndrome e sua família.
De acordo com Simone Berti – fundadora e Diretora Presidente do Instituto, a ideia surgiu em agradecimento à vida “bacana” que ela tinha com o seu marido Márcio Berti. Sem imaginar que chegariam onde estão hoje, o projeto já foi eleito por três anos consecutivos como melhor trabalho social do Brasil.
Capacitando e ensinando jovens e crianças a fazer receitas e desenvolver suas habilidades com a manipulação de alimentos, o Chefs Especiais proporciona, gratuitamente, cursos na área da gastronomia. Entre outros profissionais engajados, Carlos Bertolazzi, Olivier Anquier, Henrique Fogaça e Guga Rocha já ministraram oficinas do projeto.
Confira a entrevista exclusiva que o FoodJobs fez com Sirmone Berti.
FoodJobs: Desde de 2006, quais foram as principais conquistas do projeto?
Simone: As conquistas são inúmeras mas, acredito que uma das principais é que, atualmente, a pessoa com síndrome de Down hoje é vista de forma diferente e valorativa. Fomos chave para sua inserção na sociedade de forma mais ampla – sem contar as diversas melhorias de histórias na vida dessas pessoas e de suas famílias.
Por 7 anos trabalhei apenas com mobilização social. Chefs Especiais conquistou sua sede locada após esse período com apoio da empresa Danubio. Na época, com 180 alunos e uma enorme fila de espera. Essa empresa acreditou no meu sonho e o tornou realidade. Atualmente, contamos num único espaço com três cozinhas totalmente equipadas e com mais de 300 alunos, fila de espera, 180 voluntários todos da área de gastronomia e chefs renomados. Fomos eleitos por três anos consecutivos como melhor trabalho social do Brasil, bem como no ano passado os nossos apoiadores Danubio e Friboi, condecorados como as melhores empresas de responsabilidade social do ano em apoio ao Chefs Especiais.
FoodJobs: Há uma idade para participar do projeto? Como é feita a inscrição para fazer parte?
Simone: A idade mínima é de 12 anos de idade para oficinas e 18 para cursos de capacitação. Mas, atualmente, as inscrições estão fechadas devido a grande demanda de alunos.
FoodJobs: Qual é o período para a conclusão do curso? Todos os alunos recebem certificado?
Simone: Em cada oficina os alunos recebem seu certificado. Trabalhamos em esquema de rodízio, uma vez que não temos recursos financeiros suficientes para atender a todos. Esses cursos duram em torno de 4 horas e são constantes e os alunos participam em esquema de rodízio. Já os de capacitação têm duração de 2 a 4 meses. O aluno pode fazer vários cursos mas não pode faltar pois perde sua vaga, abrindo espaço para quem está na fila de espera.
FoodJobs: Quantos chefs participam hoje, do projeto?
Simone: Não temos chefs fixos. Temos 180 chefs que trabalham nesse esquema de rodízio ou que dão curso de capacitação. Temos uma grande fila de espera para a participação.
FoodJobs: Atualmente, qual tem sido o maior desafio do projeto?
Simone: O maior desafio é encontrar mais empresas que abracem, financeiramente, o trabalho a fim de podermos realizar mais atividades, atender mais alunos e ampliar para outras capitais do Brasil para dar oportunidade a todos. Há 4 anos, Portugal realiza nosso trabalho com o projeto Down Cooking. O objetivo é que outros povos possam também ter essa experiência.
FoodJobs: Para manter o projeto, vocês recebem doações e patrocínios? Como funciona a questão de arcar com os custos?
Simone: O Instituto se mantém basicamente de patrocínios de empresas e eventos que realizamos. Não há doadores, pois é muito difícil as pessoas se mobilizarem para ajudar. Infelizmente, nossa cultura ama trabalhos sociais e apoiam na palavra, porém, pouquíssimas ajudam, efetivamente, por menor que seja o valor. Conforme o patamar de contribuição há contrapartidas para as empresas.
FoodJobs: Há histórias de jovens que participaram das aulas e hoje tem seguido na carreira da gastronomia devido a motivação do projeto?
Simone: Nosso maior objetivo é a autonomia e não o mercado de trabalho. Esse é uma consequência. Atualmente, as pessoas com síndrome de Down sobrevivem aos seus pais. Ao mesmo tempo que é uma felicidade, é também uma grande preocupação para a família e para a sociedade. Chefs especiais é um facilitador de autonomia, de ingresso na sociedade e na própria vida. Trabalhamos com a valorização da pessoa e de sua família.
Autoestima é a força matriz que nos conduz e com essa moçada não é diferente. Temos duas alunas formadas em gastronomia e um aluno no terceiro semestre de uma respeitável faculdade de gastronomia mas o importante é que todos consigam ter sua auto gestão.
Fonte: Redação FoodJobs