Algo histórico está para acontecer em Barcelona de que ninguém fala –ainda. Em outubro, Albert Adrià –o chef mais genial de sua geração– vai abrir o restaurante com o qual sonha há mais de década. Ele se chamará Enigma e, aposto, atrairá legiões de foodies do mundo todo (já tem lista de espera com quase 2.000 nomes!).

Na propositalmente enigmática casa, Albert usará longas degustações, em um palco luxuoso e teatral, para mostrar todo o seu brilho. Já faz muito sucesso com outros restaurantes em Barcelona, mas esse será a cereja do bolo.

Ali, reinará como fazia seu irmão mais famoso, Ferran Adrià, no mítico e extinto restaurante El Bulli, que tinha lista de espera de dois anos e onde todo fã da alta gastronomia sonhava em comer.

Albert passou a carreira sob a sombra do irmão-lenda. Sabe que os críticos irão comparar os dois restaurantes, por isso bolou um conceito totalmente diferente (com a benção de Ferran). O lugar, que visitei em obras, é uma viagem.

Os clientes entrarão por um espaço zen, à japonesa, e de lá passarão por um barzinho com coquetéis amalucados. O “passeio” seguirá com um pit stop em uma ilha com espetinhos japoneses, até que, por fim, os clientes se sentem para jantar, em mesas largas e espaçadas sob teto de “nuvens”.

Como a alta costura, a alta cozinha definha porque custos absurdos impossibilitam qualquer lucro. Investir em luxo é loucura: as pessoas buscam cada vez mais ótima comida servida em ambiente sem frescuras ou formalidades.

Mesmo sabendo disso, Albert teimou em bancar um restaurante “uau” (as cozinhas aparentes, lembrando convés de navios, foram forjadas sob medida, os pisos e paredes, revestidos de porcelanas pintadas a mão).

Serão apenas 24 clientes por noite, acomodados no impactante espaço de 500 metros quadrados.

Dos bocados sendo desenvolvidos por ele e sua equipe, surreais, e dos talheres inspirados em como se alimentam insetos e pássaros, nem falo.

Será algo alucinógeno, polêmico, caro, provavelmente delicioso e, infelizmente, exclusivo. E vai reverberar mundo afora. Assim como as criações de sonho que a Chanel desfila em Paris, inacessíveis mas influenciadoras, os menus do Enigma ditarão moda, mesmo se derem prejuízo.

Fonte: Folha de S. Paulo