Desde que o Eike Batista foi preso, no fim de janeiro, após desembarcar no aeroporto do Galeão, vindo de Nova York, acusado de pagar propina de 16,6 milhões de dólares ao ex-governador Sérgio Cabral, os funcionários do Mr. Lam foram tomados por um misto de ansiedade e medo. O badalado restaurante chinês, que havia resistido à derrocada financeira de seu fundador, teria agora forças suficiente para sobreviver à sua prisão?

O quanto o suposto envolvimento de Eike nos casos de corrupção investigados na Operação Lava-Jato afetaria diretamente a imagem do restaurante, a ponto de espantar a clientela? A reportagem de EXAME Hoje foi até o suntuoso restaurante de três andares, situado às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal carioca, para saber se há mesmo motivo para os funcionários do Mr. Lam entrarem em pânico.

O horário e o dia não eram dos mais convidativos: o começo de noite de uma terça-feira chuvosa. A temporada, um pós-carnaval, também não. Nem a cidade: o Rio sofre com a crise financeira do país, que se soma à crise do próprio Estado, arruinado em dívidas. A queda de receita tem afetado até mesmo ícones da gastronomia local, como o Roberta Sudbrack, restaurante que leva o nome de sua chef-fundadora, e que fechou as portas em janeiro deste ano.

Por que não imaginar, portanto, o mesmo destino para um restaurante que cobra 75 reais por uma sopa e cujo dono, tão associado à sua imagem, está numa cela de quinze metros quadrado em Bangu 9? Pois bem, o Mr. Lam virou uma espécie de highlander da gastronomia brasileira. A despeito de todos os infortúnios enfrentados pelo seu dono – e pelo país – o restaurante continua lotado. É o que se viu na noite de terça-feira, com suas 95% de mesas ocupadas, em plena sete da noite.

A melancolia de Eike, preso em Bangu, contrasta com a alegria radiante de Éder Heck, o gerente do Mr. Lam, um jovem catarinense que trabalha há mais de dez anos no estabelecimento e que escreveu do próprio punho uma carta, assinada por todos os funcionários, em solidariedade ao patrão, após sua prisão. Heck tem certeza que Eike vai dar a volta por cima. “Pegaram ele como troféu, para colocar na parede. Mas ele vai sair dessa”, diz. “Ele próprio defende a investigação, a Lava-Jato”.

Heck conta que dias depois da prisão de Eike houve alguns protestos isolados de clientes. Um deles chegou a se levantar da cadeira, no meio do salão, fazendo piada com a detenção do empresário. Foi logo reprimido pelos próprios amigos e parentes. “Ele levantou gritando, dizendo se o Eike estava com saudade de comer satay na prisão. Foi desagradável”, lembra o gerente. O dono do Mr. Lam detém o recorde informal de maior devorador de satays de frango, um espetinho especialidade da casa, numa só noite: 37.

Com o tempo, tudo se acalmou. E o restaurante voltou à rotina. Heck diz que nunca recebeu tantos clientes vindos de fora do Rio, a maioria paulistas, que, com a crise, passaram a tirar férias no Brasil e não no exterior. O restaurante também bateu todos os recordes de faturamento durante o Carnaval, o melhor dos 12 anos de existência da casa. “Entregamos tantos satays na Zona Sul, que ficamos em primeiro lugar no iFood para essa região”, diz.

Quem administra o Mr. Lam é Thor Batista, filho de Eike. “Ele é mais calado, não vem tanto quanto o pai”, diz Heck. Se o restaurante continua sendo um importante centro de negócios – as reservas, para o segundo e terceiro andares, estavam todas lotadas –, os políticos, habitués da casa, sumiram. O ex-prefeito Eduardo Paes, que gostava de jantar no restaurante chinês, sempre após os ensaios da Portela, nunca mais foi visto por lá. E Sérgio Cabral, também era cliente do Mr. Lam? Heck balança a cabeça negativamente. “Esse eu nunca vi por aqui. Ele ia, isso sim, era ali do lado, direto”, diz o gerente, se referindo à pizzaria Capricciosa.

Heck diz sentir saudade do patrão. “Não sou puxa saco. Pergunte para qualquer funcionário daqui se eles também não sentem falta do Eike. Ele conversava com todo mundo, do lavador de prato ao gerente”. Perguntando se ele acha que Eike, um ex-bilionário, acostumado a todo tipo de mordomia, vai conseguir enfrentar a dura rotina de presidiário, o gerente não titubeia. “Ele é cascudo. Quando o Thor nasceu, esse cara estava no meio da selva da Amazônia, buscando ouro”, diz. “Imagina se ele vai ficar deprimido só porque tem que comer arroz e feijão. Se bem que se eu pudesse entregar uma quentinha pra ele lá na prisão, eu levaria três dúzia de satays e três garrafas de champanhe americana”. Champanhe americana? “É como ele se refere à Coca-Cola. Ele é um cara simples, acredite”.

Fonte: EXAME.com