Quando se pensa sobre o glúten, muita gente associa com ganho/perda de peso o fato de comer/não comer alimentos que contenham a substância. Não é bem assim

Se você visita regularmente o mercado já deve ter notado, de dois ou três anos para cá, um aumento considerável do espaço para produtos “livres” de glúten. Essa ala dos alimentos “mais saudáveis, orgânicos, menos sódio, mais ômega-3” ganhou atenção dos varejistas e dos consumidores. E glúten talvez seja a palavra mais estampada em caixinhas e pacotes do que todas as outras – a ponto de itens que antes só eram comercializados com prescrição médica ou em lojas especializadas terem se tornardo hits de vendas.

Produtos sem glúten acabam sendo propagandeados com a imagem de “mais saudáveis”, “naturais”. É pão sem glúten, bolo sem glúten, molho sem glúten – e até alimentos que tradicionalmente não contêm mesmo a substância agora são vendidos avisando sobre isso.

Restrição da moda

Nos últimos anos, o mercado de produtos sem glúten explodiu – um pouco graças a livros (um tanto alarmistas) que ligaram a substância ao surgimento de autismo, depressão, Alzheimer, esclerose múltipla, diabetes e outras questões de saúde. Em 2013, a atriz norte-americana Gwyneth Paltrow revelou que tinha posto a família toda em uma dieta livre de glúten, “curando” a eczema do filho dela. Artigos de jornal debateram a questão – e, provavelmente, toda essa comoção pareceu bastante irritante para aqueles que sofrem, de fato, de doença celíaca, uma reação que acontece no organismo de algumas pessoas ao consumir glúten.

Uma vida sem o glúten precisa ser bem planejada – com acompanhamento médico. Fazer uma dieta assim é algo que as pessoas só precisam necessariamente adotar se for diagnosticada a doença autoimune que impede o corpo de processar a substância.
O glúten é composto por grupos de duas proteínas, gliadina e glutenina, que se reúnem quando a farinha e a água são misturadas para fazer uma massa para pão e outros alimentos, dando estrutura e elasticidade. Pode ser encontrado no trigo, mas também em outros grãos, como cevada e centeio.

Não é simplesmente o suficiente evitar o pão, massas e bolos: o glúten pode ser encontrado em molhos, cubinhos de caldo pronto, doces e uma vasta gama de produtos. É vital para as pessoas com doença celíaca evitarem – porque seu sistema imunológico reage ao glúten, danificando o intestino delgado e impedindo a absorção de nutrientes, podendo causar anemia, muita perda de peso, fadiga, inchaços e dores.

Mas hoje, quando se pensa sobre o glúten, que é basicamente apenas uma proteína que se encontra na cevada, centeio e trigo, muita gente associa com ganho/perda de peso o fato de comer/não comer alimentos que contenham a substância. Não é bem assim.

“O glúten, em si, não tem relação direta com a perda de peso”, diz Mariana Casseb, nutricionista do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“Não há estudos comprovando que ele atua sobre isso. O que acontece é que, evitando alimentos com certas farinhas refinadas, a perda de peso acaba acontecendo. Mas não é um quadro direto: ao abandonar o glúten e apostar em outros alimentos, pode-se até ganhar peso”, explica.

Quando se olha para os rótulos de produtos sem glúten, vale notar que muitos podem conter doses mais elevadas de calorias e gorduras do que outros alimentos que contenham glúten.

Mariana Casseb reforça a necessidade do acompanhamento clínico. “Não é correto fazer qualquer grande mudança na alimentação sem pedir ajuda profissional. O pior dessa dieta é que muita gente sustitui os alimentos com glúten por outros, como farinhas de mandioca ou de arroz – mas é importante saber que elas têm carboidratos refinados que elevam o índice glicêmico. O que pode ser prejudicial para pessoas pré-diabéticas, por exemplo.”

Fonte: IG