Acaba de ser lançada, oficialmente, a primeira “milk beer” do Brasil. Chama milk, mas não tem leite. É de cervejaria, mas, por lei, não é considerada cerveja. Então, o que é?

É a Teta, uma milk brown ale. A cervejaria Urbana, que produz a receita desde 2012 de maneira caseira, finalmente a coloca nas prateleiras. A cerveja não leva leite, mas sim lactose, o açúcar do leite. E por que isso? Porque a lactose não é fermentada pelas leveduras da cerveja, não é consumida e, sendo assim, se adicionada ao mosto, ela fica presente até o final, intacta, dando doçura e corpo.

A liberação da venda era esperada há tempos pela Urbana. Como por lei do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é proibida a adição de qualquer ingrediente de origem animal em cerveja, eles conseguiram aprovar, mas somente com a condição de registrá-la como bebida alcoólica mista e não como cerveja. (O mesmo que aconteceu com a Colorado Appia, que tem mel).

Mesmo podendo ser utilizada em qualquer estilo, costuma ser adicionada às stouts, não só porque foi o primeiro a receber o açúcar e, consequentemente, ser o tradicional, mas também por contrastar bem com o sabor dos maltes tostados. Inclusive, foi um dos rótulos que indicamos na coluna sobre a vinda da Stone para o Brasil. Virou modinha nos EUA – que ressuscitaram o estilo – e, por aqui, com essa abertura de precedentes pelo governo, pode também ficar mais fácil de encontrar. Afinal, falar de doçura, mesmo numa era em que o lúpulo é o deus-maior cervejeiro, pode ter sim seu público, ainda mais no país da cana-de-açúcar, fã de um docinho.

História. Para variar, existem pelo menos duas versões sobre a origem da receita. Uma diz que o estilo surgiu por volta de 1800, quando era costume misturar leite à cerveja para reforçar o lanche dos trabalhadores. Além disso, diziam que a bebida fazia tão bem à saúde que teria virado recomendação médica para várias doenças e até para mães em amamentação para aumentar a produção de leite.

Já a outra história é a de que as cervejas frescas, as milds, eram uma tendência na mesma época. Estando novas, ainda continham açúcar residual, mas como ficavam nos barris, com o tempo e pela ação das leveduras, os açúcares eram consumidos e a cerveja se tornava seca, ou seja, sem dulçor. Não adiantava colocar açúcar de cana, de que o fermento também gosta. Então, usaram lactose para adoçar sem fermentar mais.

Seja qual for a versão, em 1875, John Henry Johnson patenteou o estilo, imaginando essa cerveja tão nutritiva. Ele acabou não realizando o projeto, mas, em 1907, outros viram o potencial e a Makenson’s Brewery produziu comercialmente aquela que é considerada a primeira representante comercial. Por volta de 1900, o governo inglês proibiu o uso do “milk” no nome, tanto porque não tinha nenhuma comprovação dos benefícios da lactose para a saúde, quanto para evitar que a cerveja acabasse caindo em copo de criança. Depois disso, “sweet stout” ou “cream stout” foram utilizados para descrever o rótulo.

URBANA MILK BROWN ALE

Origem: São Paulo

Preço: R$ 29,90 (473 ml) na Let’s Beer

 

  Foto: Divulgação

Uma milk brown ale, ou seja, seu estilo base é o brown ale. De produção sazonal, tem 6,9% de álcool e flocos de milho na receita, o que diminui o corpo e dá leveza à bebida. Tem as notas tostadas do malte, lembrando café e chocolate, a doçura leve da lactose, mas a persistência do lúpulo. Ou seja, apesar do açúcar, ainda é uma cerveja para aqueles que também gostam de amargor.

Fonte: Paladar