Uma seleção de vinhos “que têm uma história para contar”. O Descorchados 2016, principal publicação sobre vinhos produzidos na América do Sul, foi lançado nesta segunda-feira (23), em São Paulo. Escrito pelo crítico chileno Patricio Tapias, o guia chega à 17ª edição

descorchados_2016_capaTapias diz que prefere vinhos que emocionem, que contem uma história, aos tecnicamente corretos. Seria então a vez dos vinhos de terroir? “A sensação agora é que o clima é importante. O foco dos produtores é o que está na terra. E aí, mais vinhos interessantes, de lugar, de origem são encontrados”, disse em entrevista.

O vinho eleito o melhor tinto do Chile desta edição é o Silencio 2011, da chilena Cono Sur, que vem dos pés dos Andes, no Maipo, com 98 pontos. “Estou seguro de que fazer esse vinho, com essas qualidades, é impossível em outro lugar. A influência fresca da Cordilheira, os solos aluviais e até a vegetação do lugar… tudo influi para que esse vinho tenha o gosto e o cheiro que tem”, escreve no guia.

O melhor branco chileno foi o Errázuriz Las Pizarras Chardonnay 2014, da região de Aconcágua Costa, com 97 pontos. Assinado por Francisco Baetting, tem “personalidade distinta, sobretudo em termos de profundidade de sabores”.

Para fazer o guia, Tapias passa meio ano percorrendo vinícolas e encontrando pessoalmente enólogos, e meio ano degustando vinhos às cegas. Para a segunda etapa, conta com uma equipe de dez degustadores.

Do Brasil, são julgados apenas os espumantes, porém há a promessa de que os vinhos tranquilos entrem no páreo no ano que vem. Sobre os espumantes, Tapias aconselha ficar de olho na produção de Santa Catarina. “A Serra Gaúcha é a que hoje faz os melhores espumantes do Brasil e é também a que tem uma história mais rica no tema, e, portanto um pouco mais experiência. No entanto, Santa Catarina vem forte”, afirma.

O título de melhor espumante brasileiro foi para o Vertigo Nature Chardonnay Pinot Noir 2013 da Pizzato, não filtrado, ainda com as borras. Tapias vê o estilo como “o resgate de uma técnica que abre um novo caminho para os espumantes sulamericanos”. Teve 93 pontos. Na mesma tendência está o segundo lugar, oLírica Crua Chardonnay Gouveio Pinot Noir NV, da Hermann, com lias em suspensão. Tapias descreve os sabores como “exuberantes, selvagens, vivos” e concedeu 92 pontos. “Uma nova visão das borbulhas sulamericanas, que tem que ser provadas, sim ou sim.”

Com mais de 920 vinícolas listadas, o Descorchados 2016 traz desde gigantes como Santa Rita a pequenos produtores produção mínima. Mas, resta a dúvida: para o consumidor, vale ouvir de um vinho que muito provavelmente não irá encontrar no mercado? Tapias responde prontamente que sua missão é fazer uma fotografia panorâmica sem discriminação: todos os bons entram. “Acredito que é um problema do consumidor encontrar esses vinhos. Se eu sou um fanático de música e sei que há uma edição limitada de Joy Division, vou procurar em Londres. Para mim, se realmente interessa, eles têm que procurar. Hoje, degustamos vinhos de 200 garrafas. É quase impossível de encontrar, mas se interessa às pessoas, eles vão procurar.”

Fonte: Paladar