Na Castro Burger, em São Paulo, a diversidade é servida à mesa como prato principal. Isso porque além de ser uma hamburgueria que celebra o público LGBT, em todas as suas esferas, também propõe que todas as diferenças – que nos torna tão únicos – sejam abraçadas, libertas e aceitas. Ali, só não tem vez o cliente vestido de preconceito.

Você poderia pensar que essa é só “mais uma” hamburgueria perdida no meio de tantas outras que pipocam pela capital paulista. Mas, pela experiência de estar lá, notamos que não…esse não é um lugar qualquer. Inspirada no bairro Castro, em San Francisco, considerada a capital gay do mundo, a empreitada está mais interessada em propagar o respeito do que servir uns lanches deliciosos num ambiente cool. “Além dos vários restaurantes e do costume religioso do brunch, queremos ter a atmosfera do bairro. Ao pisar em Castro, você sente que ali, naquele bairro, as pessoas são o que são e não existe, ou pelo menos não presenciei, qualquer tipo de indiferença”, me contou Luiz Felipe Granata, que é um dos sócios, uma pessoa extremamente gentil e atenciosa. Ele não sabia que eu era jornalista, não sabia que alguém do Hypeness ia lá e exatamente por isso ganhou estrelinha comigo, porque atende as pessoas muito bem.

Logo na entrada, uma placa luminosa no bar já mostra que não estamos na pior: “Castro Bons Drinks”. Dali saem clássicos como Mojito e Gin Tônica, de limão siciliano ou morango com hortelã. Escolhi uma mesa logo em frente ao altar. Sim, um cantinho, inspirado em oratórios, que serve de mural de inspiração para quando estamos descrentes da vida. Em cada quadrinho estavam pessoas maravilhosas que fazem a diferença no mundo e para a comunidade gay: Santa Cher, Elton John, David Bowie, Laverne Cox, Elke Maravilha, Ney Matogrosso e ao topo, Harvey Milk, ativista e primeiro homem assumidamente homossexual a ingressar num cargo público político da Califórnia. Amém!

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Abaixo se lê uma placa “ajude a associação Brenda Lee”, que ajuda pessoas LGBT portadoras de HIV-AIDS, revelando o lado social da casa. Focando em iniciativas filantrópicas, a cada 90 dias irá angariar fundos para doação à uma instituição diferente. Já a arte também ganha espaço na Castro, que convida a cada três meses um artista para ilustrar os jogos americanos, porta copos e um quadro principal, este último sempre fazendo uma releitura da obra “A Dança”, de Henri Matisse. A convidada do mês é Negahamburguer, que dá voz às mulheres, expondo temas como preconceito e violência de gênero.

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No menu, elaborado pelo chef João Leme, a primeira coisa que você faz é rir com os nomes dos pratos, sanduíches, drinks e sobremesas. É “Tô Bege” pra um lado, “A loka!” pra outro e até as grandes vilãs de televisão estão ali, na parte de Ciabatas. Os hambúrgueres são mais recatados, com nomes de atrações turísticas da cidade californiana, como Golden Gate (cheeseburger de angus com salada, custa R$ 21,50) e Union Square (hambúrguer de cordeiro com queijo feta, tomate, alface, pepino, cebola e maionese de hortelã, por R$ 35).

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Pedi um suco bem refrescante, feito com três tipos de limões, e o vegano Haight Street, com “queijo cheddar” da casa, cogumelos, rúcula, cebola e “hambúrguer” de batata no pão integral. Sabor muito bom, mas a combinação vai ser alterada para algo com mais consistência e menos cara de purê, segundo Luiz. Meu boy pediu um Market Street, hambúrguer de Angus com bacon crocante, queijo prato fundido, picles, tomate, alface americana e maionese da casa no pão de hambúrguer australiano. Para fechar a comilança com chave de ouro, dividimos o milk shake Tô Bege, com bolacha Oreo, sorvete de baunilha, praliné de avelã e calda de chocolate. Agradeci Santa Cher e todos os outros por essa graça alcançada!

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Mas como falei no início dessa conversa, a Castro não é só purpurina, representatividade e gírias divertidas.Para nós, a igualdade está em abraçar todas as diferenças e diversidades, assim não fazia sentido o conceito ser apenas na questão de sexo e gênero. Queremos que todas as pessoas se sintam acolhidas e respeitadas pelo que são, como são, independentemente de gênero, etnia, credo, deficiência ou qualquer outra razão. Pensando nisso fizemos questão de ter um banheiro acessível e cardápios em braile, por exemplo”, explicou Luiz, mas pode chamar de Biro. Acho que nunca vi ou notei a existência de um cardápio em braile em nenhum estabelecimento que já fui.

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Outro ponto forte do local e que chama a atenção é o quadro de funcionários. Por meio de um anúncio do Facebook, receberam mais de 500 currículos e hoje contam com 16 pessoas na equipe, sendo três pessoas transexuais, uma mulher e dois homens, além de homossexuais, bissexuais e heterossexuais. Porque sim, podemos conviver todos juntos e felizes, caso alguém ainda não saiba (ou insista em não saber!).

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Mas fico ainda mais feliz quando vejo pessoas trans trabalhando, porque elas enfrentam um preconceito ainda maior na sociedade e uma resistência muito grande por parte das empresas. Por mais que as coisas tenham caminhado bem para a diversidade, ainda há tanta coisa a se fazer, na prática, para e por essa parcela da população. Infelizmente achamos que ainda existe muito preconceito e confirmamos isso com os comentários que recebemos junto aos CVs. A apreciação de contratação de pessoas LGBTs na Castro mostra que nosso conceito é feito de dentro para fora e não apenas uma propaganda bonita e temporária.”

Luiz compartilhou comigo algumas mensagens que recebeu anexadas ao currículo: “Achei sensacional a apresentação da empresa, deixando claro e aberto sua intenção totalmente inclusiva. Estou trabalhando como freelancer desde que saí do restaurante que trabalhei por não ter a documentação necessária  para um novo registro CLT. Já fiz toda as alterações nos documentos, mas falta a carteira de reservista do exército que está bem difícil de conseguir por falta de informação, desrespeito e descaso das forças armadas. Desde já agradeço o espaço e a oportunidade de ser quem sou e não precisar tentar esconder a minha identidade de gênero”.

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“Sou transexual e encontro  grande dificuldade para conseguir emprego por conta da minha identidade de gênero, muitas pessoas não veem meu caráter e postura profissional e acabam fechando as portas de modo que me faz pensar em desistir. O fato de eu estar escrevendo aqui é apenas uma forma de agradecimento por abrirem vagas não só para nós Trans mas para toda nossa comunidade. Muito obrigado !”

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Isso não é só um emprego ou uma oportunidade; é uma mão que se estende, um ato de amor, gratidão e liberdade de poder ser o que é. Esse sentimento é mais delícia do que qualquer hambúrguer que você consegue comer e saber que estamos num lugar que preza e acolhe essas pessoas é também libertador, de qualquer preconceito, dúvida, receio e etc.

São pequenas atitudes que podem abrir olhos da sociedade e até novas portas para as-os trans.Nosso principal objetivo é que as pessoas se sintam realmente bem pelo que são, que se sintam em casa e que experimentem uma comida incrível e autêntica com um atendimento excelente”, finalizou Luiz. Por experiência própria, posso afirmar que estão no caminho certo. E meu amor, o babado não é só forte, ele é contagiante. Aceita que dói menos!

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Clientela bafônica & lacradora

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Castro Burger
Rua Joaquim Távora, 1517 – Vila Mariana – São Paulo
Tel: (11) 5083-1142

Horários: segunda a quarta, das 17h às 00h; quinta e sexta das 17h às 02h; sábado e domingo, das 09h às 02h, com brunch servido até às 15h.

Petfriendly


Fotos
© Brunella Nunes e divulgação