Muitos consumidores ainda associam o consumo de vinho branco aos dias quentes de verão. E não há nada errado neste raciocínio. Por sua acidez e seu frescor, os brancos, de preferência sem passagem por madeira, são perfeitos para enfrentar o calor e os pratos leves (saladas, peixes e frutos do mar, carnes brancas e outros) adequados a essa época do ano. Mas, assim como há tintos que vão bem mesmo quando a temperatura sobe (um exemplo são os vinhos à base da uva Gamay, como os Beaujolais), haveria brancos indicados para dias mais frios, como os do outono?

Responder a essa questão foi o desafio lançado pelo Paladar aos convidados para essa degustação, que se reuniram, no aconchegante restaurante Vicolo Nostro, em São Paulo, numa tarde fria. Junto comigo lá estavam o sommelier Nelson Luiz Pereira, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP); José Luiz Pagliari, conselheiro da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAV-SP) e professor-convidado do Senac; e nossa anfitriã, a jovem e premiada (terceira colocada no último Concurso Brasileiro de Sommeliers) Lerizandra Salvador, sommelière do próprio Vicolo Nostro.

Antes de provar os seis vinhos selecionados para a degustação – com preço de até R$ 120 reais no momento da compra – indaguei aos convidados que tipo de vinho branco associavam a dias mais frios. “Chardonnay com passagem por barrica é um exemplo clássico”, respondeu Nelson. “Vinhos com mais corpo e acidez, não necessariamente com passagem por madeira, mas com mais estrutura e presença”, disse Lizandra.

Pagliari lembrou que a temperatura de serviço (não muito baixa) é tão importante quanto a estrutura dos vinhos.

Independentemente da passagem por madeira, associada à Chardonnay, outras uvas foram citadas por produzir brancos mais encorpados, caso de Encruzado (Dão), Pinot Gris (Alsace), Savagnin (Jura), Semillon (Bordeaux/Austrália) e Viognier (Rhône).

Feito esse preâmbulo, fomos à prova descobrir se os vinhos selecionados podem ser considerados brancos de outono.

  • CASA VALDUGA GRAN TERROIR LEOPOLDINA CHARDONNAY 2015 ( Vale dos Vinhedos, Brasil; R$ 143 na Specialità Bebidas)

O clássico chardonnay com madeira, no caso, 10 meses em carvalho francês e romeno. Apesar da marcante presença aromática da madeira, tem ótima acidez e bom corpo. Simples, frutado. Vai bem com pratos a base de carne suína.

 

  • CHÂTEAU THIEULEY BORDEAUX BRANCO 2014 (Bordeaux, França; R$ 94 no Sta. Luzia)

Único vinho do painel sem passagem por madeira, mas com ótima acidez e boa estrutura. Típico e bem equilibrado corte bordalês de Sauvignon (Blanc e Gris) e Semillon. É um vinho gastronômico, que convida comida: peixes gordurosos (robalo, badejo) em molho de ervas.

 

  • ESPORÃO BRANCO RESERVA 2014 (Alentejo, Portugal; R$ 120 no Sta. Luzia)

Corte de Antão Vaz, Arinto, Roupeiro e Semillon. Um vinho moderno e muito bem feito, com maior presença de madeira e álcool (14%), porém muito bem integrados ao conjunto. Elegante, mas encara até os dias mais frios do inverno. Faz boa combinação com pratos de bacalhau.

 

  • DOMAINE LES SALICES VIOGNIER 2013 (Languedoc, França; R$ 118 na Zahil)

Em Bordeaux, o sobrenome Lurton é muito associado à produção de vinhos brancos, secos e doces. Este exemplar, assinado por François Lurton, vem do Languedoc e é 100% Viognier. Floral característico e notas de mel conferem boa maciez em boca. Um vinho elegante para acompanhar raclette.

 

  • MUGA BRANCO 2013 (La Rioja, Espanha; R$ 102 na Épice)

É um corte com predominância de Viura (90%) e 10% de Malvasia, fermentado em barricas. A madeira tem presença marcante, quase excessiva neste vinho, que faz excelente parceria com um prato de verduras cozidas, aí incluídos favas e grão de bico, tipicamente espanhol.

 

  • DE LUCCA MARSANNE 2015 (Canelones, Uruguai; R$ 85,10 na Premium)

A avaliação deste vinho uruguaio foi prejudicada pela percepção de um bouchonée (a chamada “doença da rolha”). Talvez por isso, foi considerado austero no nariz. Na boca, mostrou ser seco e de bom corpo. Merece nova avaliação em outra prova.

Fonte: Paladar