O Brasil é o maior exportador e segundo maior produtor de carne bovina do mundo. A reputação da nossa carne e churrasco sempre esteve em alta até a deflagração da operação Carne Fraca. Pouco mudou nas churrascarias. Pelo menos é o que afirmam os donos e gerentes dos lugares mais estrelados de São Paulo.

“No sábado, um dia após a operação estourar, eu trabalhei mal, teve uma queda de 20% na clientela, mas no domingo já voltou ao normal. Hoje, por exemplo, já estou com a reserva cheia”, afirma Luis Carlos Ongaratto, gerente e comprador das carnes da churrascaria Jardineira Grill, em São Paulo.

O coordenador da churrascaria ainda conta que, na própria sexta, quando estourou a operação, ligou para a JBS, uma das fornecedoras da Jardineira. “Também fiquei chocado. Mas, no próprio dia, veio um diretor deles aqui para me tranquilizar. Queira ou não, eles também ficaram preocupados.” Alguns clientes também telefonaram para Ongaratto. “Tiveram três ou quatro ligações, de pessoas querendo saber de onde é a nossa carne. Expliquei tudo e, inclusive, disse , disse que poderiam visitar nossa cozinha, ver onde guardamos as carnes.”

“Fiquei preocupado se o povo ia parar de comer” – Luis Carlos Ongaratto, da Jardineira Grill

Silvia Macedo Levorin, sócia-diretora da churrascaria Rodeio, conta que ficou “superchocada” com as notícias. “No primeiro momento, passou pela minha cabeça se tinha alguma carne do tipo aqui na churrascaria. Mas aí vi que nenhum dos frigoríficos citados são nossos fornecedores.” E acrescenta: “Mesmo assim, ficamos atentos, porque achamos que poderia ter algum tipo repercussão. Fiquei preocupada com isso, pensando em como a gente poderia se posicionar”.

Já Giovani Laste, gerente geral da Vento Haragano, afirma que não se abalou. “Não houve qualquer mudança por aqui, conheço muito bem os frigoríficos com que trabalho, eu acompanho o processo deles, então isso me tranquilizou muito. Fora que não dá para generalizar, são só 21 empresas sendo investigadas.” O administrador complementa: “A carne brasileira é boa. A maior parte do nosso rebanho é de pasto e não de confinamento, o que a deixa mais macia. Eu conheço o abate da Argentina, da Austrália. Posso afirmar que nosso abate está entre um dos melhores do mundo.

A churrascaria Barbacoa, outra de renome, afirma que 80% das carnes que serve é do Brasil. “Entre as mais pedidas, estão a picanha, o contra-filé, a costela e o cordeiro. Não tivemos que jogar nada fora, temos total controle das matérias-primas que compramos e acompanhamos de perto a evolução do mercado nacional ao longo dos anos”, explica Lucianne Carmo, diretora de marketing da casa, que afirma também confiar em seus fornecedores.

Apesar do susto e generalização iniciais, vale dizer que empresas gigantes do setor, como JBS (dona da Seara) e BRF (Sadia e Perdigão) não são suspeitas de vender carne estragada, segundo lista divulgada pelo Ministério da Agricultura na ultima terça-feira (21). Elas são suspeitas de corrupção e fraude administrativa.

“O problema maior é com os processados” – Silvia Macedo Levorin, da Rodeio

A carne que mais saiu manchada é a da linguiça e da salsicha. A Polícia Federal apontou o uso de papelão, aditivos proibidos e até de cabeça de porco na composição dos embutidos de algumas empresas. “O problema que houve é mais com a carne processada e, por acaso, não compramos de nenhum desses frigoríficos que estão sendo investigados, então estamos tranquilos nesse sentido. A maior parte das nossas peças vêm da Argentina, nosso carro-chefe é a picanha da Argentina”, afirma Silvia.

Ongaratto, da Jardineira, também afirma que não trabalha com linguiças das marcas investigadas. “Na verdade, uso muito pouca carne brasileira, mas eu trabalho com algumas da JBS –tem a costela premium, o cupim e os frangos. Mas a maior parte da minha carne é uruguaia e argentina, porque lá o pasto é plano e a carne é mais macia.”

Goivani Laste completa: “Claro que tem fornecedor pior, mas é só buscar a melhor matéria-prima do mercado. Uma coisa é pagar R$ 5 e outra é pagar R$ 15 pela linguiça”.

Fonte: Uol