A concentração ao manusear uma faca e a preocupação ao botar a panela ao fogo são impressionantes, define Claudia Cruz, coordenadora de Nutrição do campus Tom Jobim da Estácio, na Barra. A declaração é sobre os 13 alunos da oficina de gastronomia Saber do Sabor, destinada a pessoas com Síndrome de Down, realizada religiosamente às quartas-feiras desde 2014, e com inscrições abertas permanentemente. O campus oferece, além do curso de gastronomia, aulas de fotografia às segundas, ambos fruto de uma parceria com a Sociedade Síndrome de Down (SDD), uma organização sem fins lucrativos.

As aulas são, de acordo com os profissionais, uma via de mão dupla. Enquanto os alunos aprendem a preparar alimentos saudáveis e a aprimorar o olhar fotográfico, os professores descobrem novas formas de comunicação e ensino. A Saber do Sabor é ministrada por Claudia, que conta com a ajuda de alunos da graduação dos cursos de Nutrição e Gastronomia e a participação de chefs convidados. A proposta é mostrar como preparar comidas saudáveis. A cada aula, a professora ensina duas ou três receitas mais o modo de preparo de um suco de fruta. Técnicas para higienizar saladas e visitas a supermercados, nas quais os alunos recebem dicas de como fazer compras, também fazem parte da grade de ensino.

Eu costumo dizer que o meu grupo não passa fome em casa. Os alunos sabem fazer vitaminas, sanduíches… Sempre receitas com muitas frutas e legumes. Todos compreendem o que eu digo muito bem; a diferença é o tempo que levam para aprender a receita. Mas eles têm autonomia, já preparam coisas para as famílias — conta Claudia.

Mãe de Lucas, de 33 anos, que também trabalha na Estácio como auxiliar administrativo, Fátima Ronconi conta que o filho desenvolveu mais facilidade para aprender e ficou mais responsável graças às oficinas. Ela ressalta, ainda, o fato de o grupo ser muito unido, o que fez com que os alunos criassem um forte laço de amizade, apesar das diferenças de idade. Atualmente, há estudantes entre 24 e 47 anos.

Ele ama as oficinas, se empenha muito e se desenvolveu muito com elas. Hoje o Lucas ajuda em casa; sabe esquentar comida e fazer um sanduíche bem melhor do que eu — diverte-se.

Coordenado pelo jornalista Genilson Araújo, com colaboração da também jornalista Adriana Dias, o curso de fotografia tem muitas aulas externas. Um dos momentos mais marcantes, segundo os professores, foi quando eles registraram a equipe de ginástica rítmica do Flamengo.

Eles têm muita vontade de aprender, um desejo muito grande de fazer “a” foto. O mais importante é saber dosar as coisas; por isso as aulas têm muita prática. Acredito que só teoria seria muito enfadonho — explica Genilson Araújo. — E eles sempre são muito bem recebidos. Tem sido bem bacana. Eu não tinha experiência com educação especial. Aprendi muito com eles, somos amigos para além das aulas.

Os interessados precisam passar por uma entrevista com a presidente da SDD, Marilza Wunder, na qual ela avalia se o candidato está preparado para os cursos, inclusive emocionalmente. A mensalidade é de R$ 576,84, e as aulas duram três horas.

Fonte: O Globo