A alimentação está presente na vida das pessoas não apenas através do consumo, mas também pelo ato de preparar os alimentos. Cozinhar, durante muito tempo, foi visto pela maioria das pessoas como uma atividade rotineira e comum. Hoje, representa muito mais do que isso. Através da Gastronomia, cozinhar deixou de ser apenas uma necessidade e passou a ser uma arte. Para muitos é fonte de diversão e de trabalho.

A relação dos seres humanos com a alimentação existe desde a era primitiva. Com o passar do tempo, o homem deixa de ser caçador e passa a ser produtor de seu próprio alimento para garantir a sobrevivência e alimentação durante o ano todo. Aos poucos, foram cultivando outros produtos como sementes, e a praticar atividades de pastoreio de rebanhos, o que mais tarde daria início à agricultura e à agropecuária. Nesse período, as pessoas viviam da produção e da colheita de suas próprias terras, das trocas de mercadorias e de negociações locais.

Com a descoberta do fogo e o acréscimo do sal, a preparação dos alimentos tornou-se mais refinada e o resultado final mais saboroso. O início da revolução industrial, e o crescente número de pessoas que migraram do interior para os grandes centros urbanos, ocasionaram um aumento considerável na demanda de produção de alimentos, alterando ainda mais os hábitos alimentares da população. A conservação dos mantimentos se deu com a chegada de novos aditivos da era moderna como os conservantes, que auxiliam no aumento da durabilidade e na qualidade dos produtos. As fontes de alimento se tornaram cada vez mais dependentes da agricultura industrial e da produção de animais.

Atualmente, o horário das refeições está dividido entre o momento de aproximação e integração com a família, o encontro com os amigos, reuniões de negócios, e práticas pouco saudáveis de ingerir lanches, na pressa de voltar as atividades cotidianas. O momento de confraternização passou a oportunizar, também, encontros sociais e ser a principal razão de grandes festivais gastronômicos, como por exemplo, o Petrópolis Gourmet; Brasil Sabor; Restaurant Week; e Comida DI Buteco.  Hoje, no Brasil, segundo a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o setor de food service (serviço de alimentação) movimenta R$ 420 milhões por dia.

Em 2015, grandes eventos da área da Gastronomia estiveram no calendário do município de Chapecó. Entre eles, o Festival Oeste Gastronômico, promovido pelo Sebrae/SC em parceria com o Chapecó e Região Convention & Visitors Bureau (CVB). Esse evento contou com um circuito gastronômico e com a participação de 24 empreendimentos, entre os quais dois festivais de cerveja artesanal: o Rango Beer, promovido pela JCI (Joint Comission Internacional) com o apoio do CVB; e o Oeste Beer Festival, organizado pela Ana Eventos e pelo beer sommelier, Francisco Pavin, com o apoio do CVB.

Nos últimos anos, o mercado gastronômico na cidade cresceu mais rapidamente com o surgimento de novos empreendimentos. Lancherias, pizzarias, cantinas e bares foram inauguradas com maior frequência. Os investidores apostaram em pratos de diferentes países e regiões, como a culinária japonesa, mexicana e açoriana.

O calendário gastronômico de Chapecó ratifica esse posicionamento ao  apresentar novidades em 2016. O Festival de Food Trucks (pequenos traillers que comercializam alimentos), reuniu no pavilhão I da Efapi, de 19 a 21 de fevereiro, profissionais que trabalham com a culinária artesanal de outros países. Segundo a organizadora do evento, Michele Velho, encontros gastronômicos deste porte tem uma importância muito grande, tanto para Chapecó como para região. “Através do Festival de Food Trucks nós conseguimos trabalhar com uma grande variedade gastronômica. Em três dias de evento, o público pode experimentar comidas e combinações diferentes feitas por chefes profissionais de cozinha”,  avalia.

Esses profissionais de cozinha que Michele se refere, quando possuem formação superior em Gastronomia, são chamados de gastrônomos. Eles são responsáveis pelo refinamento das refeições, preparo de pratos simples ou sofisticados e associam a cultura ao paladar. O gastrônomo também cuida da parte de preparação do cardápio, gerenciamento e administração de uma cozinha, controle de gastos, negociação com os fornecedores,  reposição do estoque,  e do treinamento de seus assistentes.

Alguns dos motivos para a Gastronomia deixar de ser uma atividade comum  e exigir uma qualificação superior, vêm da busca dos consumidores por comidas mais refinadas e exóticas, do  crescente aumento do turismo nos mais diversos lugares do Brasil, e da maior exposição  em programas culinários exibidos pela mídia nacional, como o Mais Você e o Estrelas (Rede Globo), e reality shows como o Mastercheff Brasil (Band), Cozinha sob pressão (SBT) e Cozinheiros em ação (GNT).

Aquecimento do mercado

Essa situação do mercado fez com que Instituições de Ensino Superior brasileiras investissem nessa área. Na atualidade, 96 IES disponibilizam o curso de Gastronomia com formação em Bacharelado e Tecnólogo. O Bacharelado tem duração de quatro anos, sete semestres e possui uma carga horária de  ​2.730 horas. Já o curso Tecnólogo tem duração de dois anos, quatro semestres e carga horária de 1.820 horas. Depois de formado, a remuneração de um gastrônomo no Brasil gira em torno de R$ 1.207 a R$ 5.500.

No oeste catarinense, o curso de Gastronomia da Unochapecó intercala teoria e prática. De acordo com a coordenadora do curso de Gastronomia da Unochapecó, Marta Nichelle Amaral, a matriz curricular associa a realização de seminários, semanas acadêmicas, jantares, campanhas de orientação à pratica da boa alimentação, entre outras atividades. A primeira turma iniciou no primeiro semestre de 2008. Hoje se formam, em média, 35 alunos por turma.  De lá para cá, houve um aumentou considerável pela procura do curso. As inscrições são feitas através de processo seletivo, que oferece um total de 40 vagas.

Na visão da coordenadora, essa expansão se deve por vários fatores: “primeiro que a gastronomia está muito em alta e a gente vê isso na TV e em eventos de médio e grande porte. Isso atrai pessoas que saem do ensino médio. Segundo, porque o mercado tem absorvido muito dos nossos alunos, que chegam nos locais cheios de técnicas e informações, o que  desperta,  nas pessoas já inseridas no mercado de trabalho, a necessidade de buscar maior qualificação.” ressalta. O professor do curso de Gastronomia da Unochapecó, Juliano da Rosa, concorda com as justificativas da coordenadora, ao afirmar que o diferencial dos alunos está na técnica. “Os estudantes aprendem desde como elaborar um prato de forma criativa, para que não haja desperdício de alimentos, até  técnicas de gestão de cozinhas, entre outras funções”, destaca.

Marta explica que o perfil do estudante de gastronomia vem se modificando desde que o curso foi aberto. Segundo ela, as primeiras turmas eram  compostas por pessoas que já estavam inseridas no mercado de trabalho, buscando capacitação na área. Hoje, as turmas são formadas também por estudantes que saem do ensino médio em busca dessa profissão.

Para o acadêmico do quarto período, Edson Tognon, vale a pena investir no curso porque acredita ser  uma área que está em pleno crescimento e ascensão em todos os países. “A alimentação nunca deixa de crescer. Você não tem como opção trabalhar só na área de alimentação, mas também na área de bebidas. Ela te proporciona uma vasta liberdade para trabalhar onde quiser, como consultor, autônomo, ou chefe de cozinha” afirma.

A graduação também estimula a abertura de seu próprio negócio. O gastrônomo formado passa por processo de empreendedorismo, onde aprende a projetar um estabelecimento e fazer toda a marcação de uma estrutura física de um local, bem como o dimensionamento de pessoas e orientações sobre toda parte de recursos humanos.

O egresso do curso, Cristiano Zauza, é um exemplo de estudante que virou empreendedor. Ele é proprietário de um restaurante vegetariano no centro da cidade de Chapecó. Cristiano conta que, após oito anos trabalhando como empregado em vários restaurantes de renome de Chapecó, decidiu investir em um negócio próprio para ter melhores condições financeiras. “Minha maior dificuldade foi ‘competir’ pela vaga com pessoas sem formação. Os proprietários preferem ‘ensinar’ do que contratar um profissional com formação na área, para poder pagar menos pelo serviço”, acentua.

Outros ramos da Gastronomia

Além dos restaurantes e de várias áreas comerciais, existem outros locais para inserção desse profissional. Uma delas é a Gastronomia hospitalar que, junto à Hotelaria Hospitalar, proporciona maior conforto e qualidade alimentar aos pacientes e acompanhantes. Para quem prefere trabalhar como autônomo, ser Personal Chef é uma boa opção. Ele realiza todo o trabalho, desde as compras, preparação dos pratos, a  aulas de culinária na casa do cliente. Outro exemplo é a gastronomia industrial, onde o gastrônomo é responsável pela elaboração da alimentação dos funcionários de indústrias.

Fonte: UnoChapecó