Entre menus e fraldas. Assim têm sido os dias de Helena Rizzo. Eleita melhor chef mulher do mundo pela revista “The Restaurant”, ela é responsável pelos quatro endereços do grupo Maní, em São Paulo — e, desde outubro 2015, por uma linda bebê chamada Manuela.

A primeira filha é fruto de uma reviravolta na vida da gaúcha de 37 anos. Em 2014, encerrou um relacionamento de 10 anos com o chef catalão Daniel Redondo — eles ainda dividem as panelas do Maní, restaurante de comida contemporânea brasileira inaugurado em 2006. Meses depois, engatou um namoro com o guitarrista Bruno Kayapy, foram morar juntos e, em janeiro de 2015, descobriu que estava grávida. Nada disso impediu a expansão de seus negócios, que inclui, além do consagrado Mani, uma referência na cozinha contemporânea brasileira, os filhotes Padoca do Maní, o restaurante Manioca e a Casa Manioca.

Desde a chegada de Manuela, no entanto, a cozinheira que se autodefine como “obcecada” e “centralizadora” teve de rever prioridades:

— Mudou o foco. Tive de me transformar, confiar mais nas pessoas, aprender que nem tudo tem que ser do meu jeito — diz Helena, pensativa, para logo mudar o tom. — Agora, a babá tem que me aguentar!

Hoje, Helena cuida basicamente do Maní. Passa lá um turno, geralmente o do almoço, e não pretende tão cedo voltar a “dobrar” (fazer dois turnos).

— Se não, pra que tu ter filho, né? — argumenta, recorrendo ao sotaque nativo.

Helena nasceu e cresceu em Porto Alegre. Na família, virou folclore seu interesse precoce por comida: nas festas de aniversário de outras crianças, dispensava docinhos e salgadinhos para investigar o que os adultos estavam comendo. Adorava brincar de “comidinha” e, um pouco mais velha, fazia bolos para vender a conhecidos. Durante um verão, juntou umas amigas e inventou uma lanchonete em Torres, praia do litoral gaúcho. Daí a surpresa quando ela resolveu prestar vestibular para arquitetura na PUC-RS.

— Ela gostava de desenhar e tal, mas cozinha sempre foi a paixão. Puxou a mim — conta o pai de Helena, Roberto Bins Jr., cujos carros-chefe são o churrasco e a paella. — Mesmo quando ela largou a faculdade para ser modelo em São Paulo, a gente via que era uma coisa de guria, não algo de longo prazo.

Quem incentivou a mudança para São Paulo em 1996 foi uma amiga de Porto Alegre, a modelo e futura apresentadora de TV Fernanda Lima.

— Cheguei a São Paulo alguns anos antes da Helena. Uma vez, ao voltar para visitar Porto Alegre, a encontrei um pouco insatisfeita. Botei a maior pilha para ela se mudar para São Paulo e, em alguns meses, ela já estava lá. Nossa vida de modelo era apenas um pretexto para conseguirmos ser independentes na cidade grande. Trabalhamos, curtimos e conhecemos muita gente — diz Fernanda, ainda amigona e hoje sócia de Helena.

Helena chegou a engrenar trabalhos, mas o 1,68m de altura limitava convites. Além disso, ela estava sempre acima do “peso de modelo”:

— Eu era comilona. Pelo stress da profissão, fiquei até mais magra depois que comecei a trabalhar com comida.

Aos poucos ela foi fazendo a transição da moda para a gastronomia: criou uma empresa de catering, passou por restaurantes paulistanos e partiu para um estágio no interior da Itália. Novamente “pilhada” por Fernanda Lima, foi para Barcelona, onde encontrou aquela que considera sua grande escola, o restaurante El Celler de Can Roca, do celebrado chef Juan Roca. Lá ela conheceu o ex, veio com ele para São Paulo, abriu o Maní… e o resto é história. Que venham outras, afirma a chef:

— Que bom que as coisas mudam, se não a vida ia ser muito chata.

O que permanece inalterada é a indiferença de Helena com a onda do “chef celebridade”, cuja fama precede a comida. Ela conta de uma vez em que saiu da cozinha para o salão do Maní e encontrou um sujeito que anunciou: “Vim ver se é tudo isso mesmo!” Respondeu na hora: “Não é tudo isso. Relaxa, senta, come, depois me conta.”
— Menos, né? — diz Helena.

Fonte: O Globo